sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Eixo 4- Estudos Sociais

Essa atividade eu trouxe na íntegra do webfólio, pois é muito importante o que ali contém, fazendo-me ver o quanto eu já trazia de meu TCC nessas atividades, meu pensar sobre o ensino de História, as evidências do meu trabalho já ali descritas...


O título do trabalho: Propostas Pedagógicas e Projetos de Trabalho

“Cada professor deveria escolher o tema que lhe apaixona.”
Sara Pain


Ensino de Estudos Sociais no Currículo Escolar

“O indivíduo é um ser geneticamente social”, conforme Wallon. Isto é: a identidade do sujeito é um produto das suas relações com os outros. Nesse sentido todo indivíduo está povoado de outros grupos internos na sua história. (Madalena Freire).

“Os homens, de uma forma ou de outra, pertencem a uma sociedade,,trazendo consigo as marcas da vida social, a herança cultural dos grupos em que vive” – Aracy do rego Antunes, Heloísa Fesch Menandro e Tomoko Iyda Paganelli.

Partindo dessas afirmações, todo indivíduo vive e interage com outros tantos indivíduos, e nesse interagir com os outros vai-se fazendo convivência, construções e aprendizagens. Portanto, nada mais natural que seja parte integrante do currículo escolar o estudo das questões sociais que envolvem esses indivíduos, nas suas redes, nas suas tecituras construtivas, na sua vida em grupo. Afinal não se vive só.
O processo de socialização do indivíduo inicia com a formação dos pares, dos grupos, e a criança participa desses agrupamentos a partir da família: aqui estabelece as primeiras relações fundamentais com as pessoas e o ambiente em que está inserida, ampliando essa interação com a vizinhança, a escola, a igreja. Nesse vivenciar regras,, cultuar ritos, tradições, participar das decisões, das comemorações, vai tecendo sua vida social, autonomia individual e conquistando reciprocidade grupal.

Faz-se necessário ensinarmos Estudos Sociais nas nossas escolas para que possamos mostrar aos nossos alunos toda essa rede de vidas entrelaçadas, pois que cada indivíduo vive sua vida entremeada com outros tantos indivíduos. Fato importante que devemos permitir, dar a conhecer aos nossos alunos, é que a história se faz presente em nossas vidas hoje, com determinados fatos, relevantes ou não, mas que se dão também com outros, e com mais outros, ao longo da história da humanidade. A cada nova descoberta, e a cada vez que se encontram soluções para determinados problemas, vivenciados por determinados grupos, precisamos perpassar para além dos tempos, para outros tempos, dar a conhecer esses fatos, conquistas e soluções a tantas pessoas mais. Por exemplo: a descoberta da roda foi um marco histórico que possibilitou tantas construções com sua utilização: o automóvel, o carrinho do bebê, a roda do patinete,... e tantas outras rodas que foram sendo usadas em tantos outros objetos necessários ou não, importantes ou não, mas que permitiram ir muito além do “carrinho de pés dos Flintstones”. Mostrar aos nossos alunos o surgimento da escrita e o “seu antes da” , como necessidade de decodificar a sua leitura, comunicar-se mais precisamente com os outros e permitir então um diálogo entre diferentes, ou mesmo iguais ou semelhantes é muito importante. E aqui é necessário para que os indivíduos, aqui denominados simplesmente alunos, possam entender essa necessidade da comunicação. E assim, possam também desenvolver esse diálogo entre si e com todos. Em todos os tempos, com todas as suas implicações, todo indivíduo precisa “sair da casca”, “sair” debaixo da asa da progenitora”, ganhar o mundo e alçar vôos para além do horizonte. Isso, penso eu, deve permitir uma maior e melhor aprendizagem aos nossos alunos. Mostrar-lhes outras histórias, de outras comunidades, de outros povos, de outras épocas, de outros tantos olhares diferentes, divergentes, convergentes... Saber que outros olhos também olharam o que hoje vemos, pode nos possibilitar melhores condições de vida, trazendo-nos mais felicidade, prazeres e alegrias. Desafiar nosso aluno a adentrar nesse mundo dos outros, como algo importante para a construção do seu mundo, sabendo que o que foi passado trouxe lições e melhorias ao presente, e que possibilitará o vislumbre de um futuro mais promissor, será de grande valia para a construção de um aluno mais crítico, portanto conhecedor de práticas possíveis, para a transformação em favor de seu grupo e também dos outros grupos entrelaçados.

Permitir aos nossos alunos que conheçam e decifrem outros modos de vida e produção que já existiram e ainda existem, podem possibilitar-lhes tantas comparações com o que temos e vivemos hoje, pode abrir horizontes em busca de novas lutas para melhorar o convívio social, a qualidade de vida que vivem e ainda garantir-lhes direitos cidadãos, como sujeitos que contribuem com o Estado, e que necessitam receber em troca algo melhor para sua comunidade, mais benefício do que recebem. Caso não conheçam outro modo de vida, de produção, de partilha e distribuição, como poderão querer reivindicar melhorias? Como criticar um sistema se não temos outra comparação? Como ser sujeito se deixamos que vivam sem objetividade, na obscuridade? Memorização de datas comemorativas? Primeiros presidentes? O que nossos últimos governantes têm feito para que melhoremos? O que nos dão em troca do tanto que arrecadamos? Meus pequenos têm todo o direito de serem informados de tudo isso! E eu tenho obrigação, como educadora, como cidadã paga pelo Governo, de mostrar-lhes isso. E faço isso, sempre. E olha que meus pequenos têm entre 4 e 8 anos de idade. Com certeza aos 28, saberão muito bem onde vivem, como vivem e o que precisam fazer para viver melhor, em grupo, em comunidade. Saberão buscar melhorias, reivindicar melhores condições de vida. Estou sendo muito ousada, será? Quero daqui a 20 anos vê-los felizes, quero que tenham vez, e que possam manifestar sua voz, em alto e bom som: eu sou cidadão que luto por meus direitos e pelos direitos dos outros!

As autoras Aracy do Rego Antunes, Heloísa Fesch Menandro e Tomoko Iyda Paganelli, em seu livro Estudos Sociais – Teoria e Prática, tão bem colocam essas questões, quando falam “a compreensão dos conceitos do processo de integração social dos indivíduos na sociedade atual é fundamental para que o professor realize um trabalho pedagógico mais consciente e de mais qualidade”.

A disposição dos conteúdos constantes da grade curricular como Eu, Família, Bairro, Município, Estado, etc. a meu ver não modificam muito a importância que se deva dar aos Estudos Sociais, como parte integrante desse currículo. Claro que simplesmente EU, não diz muito de mim e do outro que me cerca; FAMÍLIA não contempla todas as denominações existentes, nem seus tipos, sua constituição, sua inserção numa determinada região, ou país, ou continente. MUNICÍPIO diz só do meu, não dos outros meus que existem, aqui no nosso Estado são 497 (?). Mas, o que penso ser mais importante ainda é “ o que o professor faz com essas questões, o que permite de discussão, de construção com seus alunos e o que ensina disso tudo”. Sou EU sozinho? É só minha família, só desse jeito? Sem outras constituições? Afinal, todo município é igualzinho ao outro, em nada difere? Em nada se assemelha? O que podemos generalizar, o que é específico, o que é possibilidade para todos?

Aqui gostaria de registrar um projeto que estou desenvolvendo nesse anos com meus pequenos do 1º e 2º ano do Ensino Fundamental na E E Professor Diestchi, em Rondinha- Cada aluno escolheu um lugar ou assunto para pesquisar, essa pesquisa se dá uma vez por semana na biblioteca, com um aluno só, apresento-lhes todo o material impresso que temos: Atlas, enciclopédias, livros específicos, mapas, revistas, jornais, Globo... e os ajudo a ler, comento e destacamos o que acham mais importante; a professora Lu, pesquisa com esse aluno na Internet, mais ou menos uma hora nesse mesmo dia; também procede a leitura e eles classificam o que é mais importante. Tudo anotado, no outro dia fazemos nossa “roda de socialização” dessa pesquisa: conversamos todos os alunos sobre todos os pontos anotados, e aqui vamos tecendo nossas comparações, descobrindo coisas de outros lugares, questionando o que nós temos aqui que são semelhantes, o que tem de diferente... Nossa, sai cada coisa interessante nesses momentos que alguns até emocionam! Meus pequenos se debruçam sobre os mapas, localizam os lugares, encontram seu local de nascimento, o lugar que o veranista vizinho mora; lêem as legendas, descobrem fronteiras e limites; conversam sobre noite e dia, no girar do globo, falam da falta de luz do sol,... E o brilho da curiosidade que destaca seus olhinhos por muitas vezes me emociona. Tão pouco isso que fazemos e eles mostram-se tão ávidos, satisfeitos e felizes só com isso! Essa é a melhor parte de ser professora. Todo esse trabalho está sendo (foi) registrado nesse endereço.

Rubem Alves disse, no vídeo que assistimos para o trabalho do Seminário Integrador diz na sua entrevista: “O segredo da educação é a cabeça do professor”. Vale para essa interdisciplina também. Minha indagação fica mesmo por aqui: O que eu, enquanto professora e aprendente posso possibilitar aos meus alunos aprendizes, e que juntos possamos construir muitos saberes, saberes já sabidos ou não, construídos ou em construção, mitificados ou desmitificados? Cabe a mim levar essa discussão ao redor de todo esse envolvimento de redes entrelaçadas dos indivíduos que vivem vidas juntas ou separadas, para que junto possamos entender e viver e conviver com essa gama de tanta coisa junto e possível. Então a ordem, o nome ou o que quer que se denomine como conteúdo ou tema, passa a ter menos importância se eu sei do meu papel e da responsabilidade que tenho enquanto educadora de levar isso tudo para a sala de aula, além de simplesmente ensinar-lhes a escrever seu nome, o nome do seu pai e a data do aniversário do município! Importa que possamos construir, desconstruir e reconstruir todas as possibilidades de aprendizagens, minha e do outro, com o outro e os outros. E como diz Marina Colassanti em seu “A moça tecelã: E tecendo ela própria trouxe o tempo.. que viveu... e começou a desfazer sua tecitura, aqui viu a possibilidade de tecer um recomeço...”.

Trouxe a atividade inteira, pois pensei ser bem merecedora de estar aqui, pois as reflexões são bem pertinentes ao meu trabalho de conclusão do curso.

Stela em 15.10.2010

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