sábado, 27 de junho de 2009

Trabalhando em Grupo

Numa noite dessas visitei o portfólio da colega Maria de Lurdes, e me chamou a atenção a postagem intitulada "Estou ficando antissocial" onde a mesma se reporta aos trabalhos em grupo como algo difícil de realizar...

Pois eu também ali comecei a me pensar "antissocial": ainda não consegui realizar um único trabalho de grupo que me satisfizesse realmente!

Aliás nossos trabalhos em grupo desde o início do Pead, lá em 2006, nunca foram muito "em conjunto". Já entendi que o fato de estudarmos á distância nos permite essa não-presença física, e também compreendi que a não-presença física não significa necessariamente que o trabalho não seja conjunto!

Mas, como já disse numa outra oportunidade, eu tenho necessidade de estar em contato com o outro. De conversar mais próximo, de trocar muita conversa, de muito contato físico, olho-no-olho...

Mas sei que assim como eu, todas nós temos muito pouco tempo disponível para essas trocas em conjunto. Então, várias vezes estou aqui de bobeira meia noite, madrugada e não posso fazer muito das propostas de grupo, pois minhas colegas não podem ser fazer presente virtualmente nesse tempo praticamente único que tenho on-line!

Talvez, possamos crescer mais ainda em nossas tarefas presenciais não físiscas!
Ainda estou meio descrente!
Stela, 21.45 de 27/06/09

Filosofando em duplas...

Tarefa das mais árduas para mim foi essa interdiscplina!
Nada, nenhuma atividade foi fácil, e todas elas exigiram muito de pesquisa, de leitura e de pensar, repensar, fazer e refazer, retomar...
A última atividade, realizada em duplas foi mesmo de "doer"!
Talvez nem tenha ainda conseguido digeri-la quanto mais tirar dali aprendizadens visíveis...

A tarefa dois, que foi a resposta as perguntas da colega Fabiana Sparremberger vai aqui registrada:

“É preciso aprender a ser coerente. De nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável à mudança.”
(Edna Castro de Oliveira prefaciando Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, 1996).



A presente atividade consiste na comparação do texto de Adorno “A educação após Auschwitz” com o primeiro capítulo do livro de Kant “Sobre a Pedagogia”.


2.1 Perguntas feitas pela colega Fabiana Sparremberger:

1 – Segundo Kant “O homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz.”, como você relaciona esta citação com o texto de Adorno em que relata diversas barbáries ocorridas em nossa sociedade?

2 - Adorno nos diz que “no principio da civilização está implícita a barbárie”, e Kant nos afirma que o “homem vem ao mundo em estado bruto” e ainda precisa projetar sua conduta. A partir destas afirmações em que momento deve se dar a educação? Relacione os textos e comente:

2.2 Minhas Respostas às referidas perguntas:

1. Kant afirma que “o homem é a única criatura que precisa ser educada, pois tem necessidade da sua própria razão e precisa formar por si mesmo o projeto da sua conduta”. Essa afirmação nos permite pensar que seja através da educação que o homem vai garantir a sua conduta.
Adiante Kant fala no impedimento das inclinações animais que poderão ser desviadas através da disciplina, que só será garantida ao homem pela instrução educativa, obrigando-o a retornar a humanidade e não o permitindo voltar-se a selvageria.
Adorno enfatiza que Auschwitz foi a barbárie à qual toda educação se opõe. E assim como Kant, enfatiza que a barbárie impele aos homens até o indescritível.
A estrutura básica da sociedade de tendência extremamente poderosa possibilita alterar os pressupostos objetivos políticos e sociais dos indivíduos, conforme Adorno explicita.
Relacionando o pensamento dos dois autores acredito que ambos crêem na educação como forma única e possível de garantia da humanidade em todos os homens, para que tantas atrocidades acontecidas e citadas, como Auschwitz e outras tantas barbáries que ouvimos diariamente pelos noticiosos, não mais sejam permitidas.
Adorno ainda acrescenta que “a sociedade incumbe aos indivíduos tendências desagregadoras sob a superfície da civilidade, pois a pressão do geral predomina à particularidade”. Adorno ainda diz que as pessoas que se enquadram cegamente em coletividades transformam-se em algo análogo à matéria bruta e omitem-se como seres autodeterminantes, de caráter manipulativo. E continua: “aquilo que exemplificava apenas alguns monstros nazistas ainda pode ser observado hoje”, pois há um grande número de delinqüentes juvenis, chefes de quadrilhas e similares, que povoam os noticiários diariamente.
Kant reforça que a “única verdadeira força contra a barbárie (Auschwitz), seria a autonomia, a força da reflexão para a autodeterminação, para a não-participação”. Assim a educação ensina ao homem alguma coisa e, por outro lado, não faz mais que desenvolver nele certas qualidades, visto que não se pode prever até aonde nos levariam as nossas disposições naturais.

2.O homem tem necessidade de cuidados e de formação. A formação compreende a disciplina e a instrução e os cuidados entendem-se as precauções que os pais tomam para impedir que as crianças façam uso nocivo de suas forças.
Kant ainda reforça que “a selvageria independe de qualquer lei, mas que a disciplina submete os homens as leis da humanidade e começa a fazê-lo a sentir as próprias leis. E que isso deve acontecer bem cedo. É preciso acostumá-lo logo a submeter-se aos preceitos da razão”.
Assim a educação deve ser dada aos indivíduos, conforme Adorno, na primeira infância.
Adorno diz que é necessária uma volta ao sujeito, e que a educação só teria sentido como educação para a autorreflexão crítica, trabalhando-se contra a inconsciência, pois ao conhecer os mecanismos que tornam os homens capazes de seus atos violentos, é possível que haja então uma reação, para que essas condições não voltem a ocorrer.
Adorno vai além e diz que a estrutura da sociedade atual está na busca do interesse próprio de cada um, contra o interesse de todos, e é o que vemos acontecer diariamente a nossa volta: as pessoas não mais se preocupam com o outro, estão somente em busca de coisas para si. Não há mais um interesse de que o outro viva bem e feliz e que se possa tomar parte nessa felicidade.
Enfim, após essas colocações dos autores conseguimos entender a necessidade de se educar para a volta à humanidade que deve ser lapidada em todo e qualquer indivíduo, através do ato educativo.

2.3 Avaliação das perguntas elaboradas pela colega: elas ajudaram a compreender a relação entre os dois textos?

Os textos apresentados “A educação após Auschwitz” de Adorno e o primeiro capítulo do livro de Kant “Sobre a Pedagogia” foram de leitura muito densa para mim, de difícil entendimento. Li e reli várias vezes, apontei anotações, marquei falas, enfim, busquei tirar alguma compreensão dessas leituras. Mas foi uma tarefa muito árdua, não sei se consegui muito progresso.

As buscas às respostas solicitadas pela colega me levaram novamente a debruçar-me sobre os dois textos e nem por isso foi uma tarefa mais fácil! O que ficou mais claro foi o fato de rever de novo, reler, retomar e repensar o já pensado uma, duas vezes.
Talvez eu precise ainda de muito mais tempo, de muito mais leitura e de muito mais filosofia para poder escrever o que de fato compreendi desses textos.
As perguntas da colega me levaram a muitas indagações, por muitos caminhos dentro do texto. Várias foram as vezes que fui de um lado e voltei para o outro pensando que ali estava a resposta certa. Isso pelo menos exercitou meu poder de ir e voltar em busca de algo mais claro.
Na verdade, com essa atividade o que mais me possibilitou foi voltar várias vezes às leituras, e entender que a resposta certa pode ser uma ou outra, depende do ponto de vista e do entendimento de cada um, e que tudo pode ser respondido se a argumentação for boa, caso contrário, não acrescenta muita coisa em favor de aprendizagem.





segunda-feira, 22 de junho de 2009

ORIGENS ÉTNICO-RACIAIS NA DIETSCHI

Trago aqui o trabalho que apresentei na Dietschi e estamos desenvolvendo nesses meses de junho e julho sobre as questões étnico-raciais:


ORIGENS
ÉTNICO-RACIAIS
DOS
NOSSOS ALUNOS

Stela Maris da Rosa Dias*

Vivemos em tempos atuais que nos exigem rever nossas práticas pedagógicas
em sala de aula, no que tange ao estudo das nossas origens étnico-raciais. Vimos de uma escola que nos ensinou (a nós professores) que as etnias aqui existentes ao tempo das colonizações foram meramente utilizadas pelos então colonizadores portugueses primeiro para a tomada das terras brasileiras, no caso os índios, e depois para mão de obra escrava, então os negros africanos.

Nossas origens étnicas foram assim deturpadas e negadas ao longo de quinhentos anos, enganando-nos enquanto nos faziam acreditar que os primeiros habitantes moradores das terras brasileiras, donos da diversidade natural que os abrigava e múltiplos em sua cultura, eram mostrados como meros “bobos da corte”, pintando os corpos, dançando ritmos aos deuses, e aceitando presentes para embelezar-se.

Por centenas de anos vivemos uma catequização caricata que nos instruía a ver e a mostrar nossa origem afro-brasileira como escravos da cor, diminuídos na sua essência por terem sido arrancados das suas vidas no continente africano, deixando para traz suas famílias, suas culturas, sua Cidade, sua história individual e coletiva de povo, trazidos escravos. Parece que só esse fato já explicava a não-aceitação das nossas origens afro-brasileiras. Como disse Darcy Ribeiro (2000) “o brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial para livrar-se da ninguemdade de não-índios, não-europeus e não-negros que se vêem forçados a criar a sua própria identidade étnica: a brasileira”.

Conforme as autoras Ana Maria Petersen, Maria Aparecida Bergamaschi e Simone Valdete dos Santos “a escola hoje precisa instigar a origem étnica daquele que não é mencionado, que fica à margem”. A partir dessas reflexões e leituras dos enfoques temáticos, estudados na interdisciplina Questões Étnico-Raciais: sociologia e História, elaboro o seguinte planejamento a ser desenvolvido em nossa escola, com os alunos do Currrículo Por Atividades:
Objetivos:
1. Conhecer as origens étnico-raciais que compõem as famílias das turmas, bem como conhecer algumas histórias e/ou ensinamentos que seus familiares ouviram sobre seus antepassados.

2. Saber de onde vieram seus familiares e quais as características físicas herdadas, reconhecendo em si e nos seus parentes essas mesmas características.
3. Confeccionar um painel de fotografias da família, coletando fotos e identificando seus parentes e características herdadas, ali encontradas.

4. Construir mapa político das cidades de origem das famílias e também dos países originários, destacando esses locais no mapa e legendando-os.

5. Construir um gráfico de barras das origens.

6. Pesquisar sobre as peculiaridades desses lugares específicos.

7. Entender que cada indivíduo faz parte de um grupo familiar e étnico-racial, resgatando assim a sua importância dentro daquele grupo e necessidade de perpetuar a história de cada povo, com todas as suas nuances históricas e sociais.

8. Promover um resgate da auto-imagem e auto-estima dos alunos afro-descendentes da nossa escola, através do resgate da identidade étnica das suas origens.

9. Permitir aos professores e alunos uma reflexão da formação do povo brasileiro, que traz em sua essência uma variedade de características físicas e culturais herdadas dos antepassados e conhecer as lutas desses em favor do reconhecimento e da importância dos povos formadores da nossa brasilidade.

10. Resgatar e enfatizar a importância do povo negro e do índio na nossa formação cultural, com as contribuições agregadas à cultura brasileira.

Desdobramentos em sala de aula:

Através de uma roda de conversas iniciaremos nosso bate-papo sobre as origens étnico-raciais de cada aluno. Antecipadamente enviarei aos pais uma entrevista com as seguintes perguntas:
1. O que sabem sobre a origem racial da sua família, tanto do pai quanto da mãe? De onde vieram seus antepassados, avós, bisavós?
2. Quais histórias e ensinamentos ouviram de seus pais a respeito de suas origens?
3. Quais hábitos e costumes cultivam na sua casa, como parte da cultura herdada das suas origens?
4. O que sabem sobre a história da sua família e o que julgam ser muito importante que seus filhos saibam?
5. Com quem seu filho ou sua filha se parece?
6. Sua família já sofreu algum tipo de preconceito em função da sua etnia racial?
7. Onde nasceram o pai e a mãe?
8. Onde nasceu o aluno?
9. Por que vieram morar aqui em Rondinha?
10. Sabem a origem do sobrenome dos pais?

De posse dessas respostas então faremos nossa conversa sobre a origem da cada aluno.
Também pedirei que cada família mande uma ou mais fotografias para montarmos um painel: “Quem somos nós?”

Enquanto estivermos na roda de conversa, manuseando as fotos, vamos identificando quem está ali fotografado e com quem mais se parece nas feições físicas. Vamos descobrir então os parentes, retomando, com ênfase na origem étnico-racial: cor, características físicas e local de origem.

Após essa conversa e a montagem do painel, vamos registrar num texto informativo as nossas considerações a cerca da família de cada um.

Então destacaremos num mapa Múndi a origem de cada aluno: o local de nascimento, o local onde nasceram seus pais, avós e bisavós, e o local originário étnico-racial. Destacando também nosso Município e a Rondinha, legendando-os conforme combinarmos.

Após essas atividades haverá uma leitura coletiva sobre o “nosso mapa”, com o objetivo de levá-los ao entendimento de que cada um é importante na sua individualidade e que faz parte de um coletivo na sua família, nas suas origens, na sua cultura, na sua raça, enfim, na sua história e na história de todos. E que todos e cada um devem ser respeitados nas suas origens e na sua história. Enfatizando especialmente a importância do povo negro e do povo indígena na formação do povo brasileiro.

Depois vamos registrar num gráfico de barras as origens da turma.

Então vamos pesquisar na biblioteca peculiaridades importantes sobre os povos africanos e indígenas, comparando com o que nós já sabemos, encontramos e conhecemos aqui na Rondinha, em nossas casas e famílias, na nossa vida diária e que são herdados de nossos antepassados.



Professora do 1º e 2º anos do ensino fundamental de 9 anos da escola Professor Dietschi.
Rondinha – Junho/2009
Questões Étnico-Raciais em sala de aula

“O brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial para livrar-se da ninguemdade de não-índios, não-europeus e não-negros que se vêem forçados a criar a sua própria identidade étnica: a brasileira”. (Darcy Ribeiro - 2000)

A execução em sala de aula do planejamento do Enfoque 5, deu-se em mais tempo do que as oito horas exigidas, continuando ainda em processo, visto que as atividades vão-se expandindo e é necessário mais tempo.

“A escola hoje precisa instigar a origem étnica daquele que não é mencionado, que fica à margem” conforme falam as autoras Ana Maria Petersen, Maria Aparecida Bergamaschi e Simone Valdete dos Santos.
Após as reflexões e leituras dos enfoques temáticos, apresentei meu planejamento à supervisão da Escola Dietschi, onde trabalho, solicitando que me oportunizassem colocar esse planejamento para as outras duas professoras do turno, onde trabalhamos com os anos iniciais dessa escola. Foi muito bem recebida minha proposta, e logo na semana seguinte então apresentamos às colegas o planejamento do trabalho das origens étnico-raciais dos alunos da escola Professor Dietschi.

O referido planejamento foi muito bem aceito e ali mesmo já trocamos algumas idéias de como executarmos nós três esse trabalho. No outro dia novamente nos envolvemos com a proposta: eu trouxe dois livros didáticos onde abordavam o tema, com algumas atividades, a colega da 4ª série fez uma pesquisa na internet e descobriu um site bem interessante sobre os sobrenomes: www.oguru.com.br/significados/sobrenomes.php e pensamos em utilizá-lo para nossas turmas. A colega professora do 3º ano deu mais algumas idéias sobre gráficos de dados, pois tem formação matemática.
Combinamos então de enviarmos a entrevista aos pais naquele fim de semana e acrescentamos mais uma pergunta às demais: se os pais sabiam a origem dos seus sobrenomes.

Marcamos prazo para a próxima quarta-feira e ficamos no aguardo.

Nessa mesma sexta-feira fiz uma roda de conversas através da Hora do Conto.
Apresentei a história “Gentes” de Márcia D’Haese. Explorei antes a capa: o que vemos da história que está contida aqui através da capa? Após as respostas dadas de que seria a história de um menino, que fala de futebol, de brincar, e de muitas outras coisas, concluíram os alunos. Disse-lhes que falava de muitos meninos e de muitas outras pessoas também.

Logo no início a história nos conta que moramos no Planeta Terra. Questionei aos alunos quem mais morava ali, responderam em uníssono: nós todos! E fomos conversando... Depois mostra uma página cheia de pessoas, de várias idades e etnias, de muitas diferenças físicas, de outros tantos locais do mundo. Aqui vamos incluindo na história contada a história de cada um dos alunos. Conforme vamos passando o livro de mão em mão, cada um vai procurando identificar um tipo diferente de pessoa ali contida.

Enfim, encontraram muitas pessoas diferentes: novas, velhas, brancas, pretas, loiras, morenas, grandes e pequenas, bebês e avôs, adultos, mãe, avó, indiano, chinês, japonês, afro-descendentes, cabelo curto, comprido, olhos claros e escuros... Muitas diferenças foram sendo identificadas! Aqui fui questionando aos alunos nas suas diferenças físicas e raciais, na aparência de cada um e com quem se pareciam.

Após muita conversa entre as diferenças ali encontradas, os alunos concluíram que somos parecidos com nossos parentes, herdamos das nossas famílias a aparência física, os costumes, a culinária, os hábitos. E que cada um pode ser diferente porque cada um tem uma família e constrói a sua história ali, depois da família é que se mistura com os outros.

Nessa roda de conversas também questionei aos alunos o que lembravam de ouvir os pais contarem sobre suas famílias. Apenas dois alunos se aventuraram a contar alguma coisa, os outros disseram não ouvir nada sobre isso em casa.
Então enviei o tema de casa que era a entrevista aos pais, explicando cada uma das perguntas ali contidas.

Já me surpreendi logo na segunda-feira quando alguns alunos me entregaram a entrevista “pronta”. Uma delas completa, outras três pela metade. Essas aqui eu devolvi aos alunos dizendo-lhes que os pais teriam tempo até na quarta-feira para responderem, visto que não estavam completas. As meninas (três) me disseram que a mãe não sabia responder. Então eu lhes disse que fossem até a avó, pois ela com certeza saberia responder.

Assim as entrevistas foram retornando. As que estavam incompletas fui devolvendo e pedindo que revissem junto com os pais, que os próprios alunos poderiam ajudá-los, pois já tínhamos conversado sobre tudo o que estava ali e eles tinham condições de explicar aos pais o que era.

Na sala dos professores as colegas do 3º ano e da 4ª série não estavam satisfeitas, pois as entrevistas não tiveram o retorno esperado. Coloquei das entrevistas que eu recebi e disse que estava bem satisfeita com o resultado. Avaliamos que deveria ser um pouco de ansiedade das colegas, e que reavaliassem o que tinham recebido.

Levei para nova roda de conversas uma letra de música do Toquinho: “Gente tem sobrenome” que fala exatamente do sobrenome das pessoas. Exploramos oralmente os sobrenomes de todos os alunos. Aproveitei e contei-lhes do sobrenome alemão do meu pai, que herdou de seu pai e de seus antepassados, e do sobrenome português da minha mãe. Questionei se sabiam a origem dos seus, disseram que não. Aproveitei e disse que os pais saberiam e que perguntassem a eles, pois nossa entrevista estava quase pronta para conhecermos essas informações todas.

Então no dia 03 de junho fizemos a nossa “Roda de Conversas das Origens Étnico-Raciais da nossa turma”. Retomei aqui a letra do Toquinho “Gente tem sobrenome”. E utilizei um texto informativo “Quem somos nós?” da Enciclopédia Britânica. Tivemos um bate-papo bem sério com esse texto. Pois ele trata das diferenças entre as pessoas, complementando nossas conversas que tivemos até aqui. Claro que o texto já estava defasado, antigo que é, mas utilizei o que me interessava e descartei o que não interessava.

Nessa conversa iniciamos com o manuseio das fotografias, onde fomos identificar quem estava ali fotografado e com quem se parecia. O manuseio das fotos foi um momento mais fraco, visto que somente quatro alunos trouxeram as fotografias. Como eu pressentia isso, que as famílias iriam rejeitar essa parte, separei e levei muitas fotografias da minha família. Alguns alunos explicaram que a mãe não deixou levar. Mas manuseamos essas poucas fotografias e identificamos com quem se pareciam os alunos que ali estavam.

Após esse primeiro momento utilizei as entrevistas e fomos conversando. A cada pergunta e resposta fizemos uma conversa entre todos. Com relação às origens raciais, concluímos nesse bate-papo que todos os alunos têm em seus ancestrais origem indígena, alguns afro-descendentes, outros alemães, italianos e franceses.
Nas entrevistas obtivemos também alguns ensinamentos dos pais aos filhos que se resumiram nesses:
· Importância do trabalho na vida de todos
· Valorização da escola
· Respeito aos outros, independente de sua raça ou condição social
· Solidariedade
· Hábitos e costumes perpetuados
· Honestidade
Conclui junto com os alun
os na nossa roda de conversas que todos nós temos origens indígenas, pois somos todos brasileiros, herdamos essa origem étnica de nossos antepassados que foram os primeiros habitantes das terras brasileiras. E que a herança racial européia está presente em nossas famílias na descendência italiana, alemã e francesa. E a herança africana também se faz presente, vinda dos negros trazidos da África.

Em todos os momentos das nossas conversas não apareceu nenhum preconceito racial, quanto às origens dos alunos. Um único aluno, afro-descendente manifestou um “certo ar de tensão” quando um dos colegas referiu-se aos africanos chamando-os de negros. Eu mesma confirmei essa fala, visto que a cor do povo africano e a afro-descendência mostra em seus traços essa cor, uns mais escuros, outros nem tanto, mas tem diferenças de tonalidades e que podem ser chamados de negros, pois faz parte da sua história, da história do povo africano. Salientei que devíamos todos nós reconhecermos nossas cores de pele, visto que isso é herdado de nossa família, por isso, muito importante de se reconhecer.

Alguns alunos se surpreenderam com as repostas dos pais, pois não sabiam que havia em suas famílias determinadas etnias, como no caso a francesa. Outros confirmaram que sabiam que seus antepassados eram índios. Outro, afro-descendente, descobriu que tem as origens indígenas, africanas, italiana e alemã, visto que a família e originária da região serrana de Caxias do Sul.
Ainda não concluímos nosso trabalho sobre as origens étnicas dos nossos alunos dos anos iniciais na escola Dietschi, ainda temos algumas atividades a dar conta, mas já estamos bem afinados com o tema e os alunos já estão dentro dele.

Já organizei o painel no corredor:
“Quem somos nós” com:
· Fotos da família,
· Letra da música “Gente tem sobrenome”,
· Texto informativo das origens familiares e raciais,
· Ensinamentos dos pais,
· Local de nascimento dos pais e alunos em texto,
· Legenda no Mapa Múndi dos países originários dos nossos ancestrais.

As colegas irão acrescentar seus resultados também no corredor, e ainda vamos trabalhar os mapas dos locais de nascimento e os gráficos e pesquisar sobre as peculiaridades desses lugares específicos.

Através desse trabalho pude perceber o quanto é importante os alunos conhecerem a formação do povo brasileiro em sua essência, e saberem-se parte dessa história, conversando abertamente sobre a variedade de características físicas e culturais que herdaram de seus antepassados reconhecendo também as lutas do seu povo para resgatar sua valorização como participante da formação da nossa brasilidade.

Trago uma fala de Santos (p.100, 1997) que diz da relação da beleza e branquidade parece ser algo natural, mas que não o é, essa naturalização é o resultado de um longo trabalho discursivo que constituem a “branquidade como natural”. Santos afirma ainda na p. 96 que “embora ocorram alguns movimentos que visam a valorização da cultura e da identidade negra” a branquidade ainda é definida como parâmetro, como naturalmente natural...” Nessa fala percebemos e entendemos o quanto a televisão, a mídia, tem poder de influenciar nas nossas vidas, reforçando através de suas novelas, os modelos aceitos como naturais: a branquidade é que detém melhor emprego, melhor lugar, é mais bem vista.

Mas percebemos que aos poucos isso já vai mudando. Já temos muitas novelas mostrando os negros no mesmo patamar dos brancos, existem vários atores e atrizes que conseguem garantir lugar a si e aos outros nessa luta por igualdade de oportunidades, independentes de cor, etnia, raça...

Gostaria de trazer aqui um episódio que aconteceu quando confeccionamos nosso mosaico das raças na sala: conforme íamos colando as nossas gravuras, imagens de pessoas que recortamos, eu ia questionando os alunos: quem é essa pessoa? Como ela é? O que vemos? Como está vestida? E fui colocando outros questionamentos também. Ao final da colagem das figuras, questionei vários pontos e na questão apontem a pessoa mais rica do painel, todos apontaram para uma mulher cheia de jóias, muitos enfeites dourados, negra. E depois: agora que saber a pessoa mais bonita daqui, perguntei. Todos apontaram para uma mulher lindíssima! Também negra. Meus alunos aqui ficam de fora da colocação de Santos, de que “branquidade é natural”. Penso que isso deve-se ao fato de morarmos num lugar pequeno, que acolhe a todas as pessoas, independentemente de suas origens raciais. Não vemos casos de preconceito e racismo em nossos alunos pequenos, pode ser que ao crescer enfrentem essas questões, mas por enquanto isso ainda não ocorre, no meu modo de perceber essa questão.

Talvez ao tratarmos as questões étnico-raciais com naturalidade, enfatizando a discussão em sala de aula seja um bom momento de trazermos as questões raciais mais claramente resolvidas em nosso cotidiano escolar, assim como a aluna Luciane Andréia Ribeiro Leite fez em sua turma. Também podemos possibilitar uma boa conversa que renda frutos de “reflexão étnico-racial” em todos os alunos, independentemente de sua cor, e isso vai lhes ampliar a compreensão de que todos nós somos diferentes em nossa individualidade, especificidades e particularidades. E que todos temos o direito de sermos o que somos, o importante é resolver isso conosco mesmos e junto com os outros todos, no conjunto.

Para concluir penso ter atingido meu objetivo maior com esse trabalho que foi o de resgatar e enfatizar a importância do povo negro e do povo indígena na nossa formação cultural, salientando nossas diferenças e especificidades familiares.

Questões Étnico-Raciais 2

“Na verdade, a gente deve aprender que não existem coisas insignificantes e que todos os seres vivos fazem parte da grande teia da vida da qual não somos donos, apenas um de seus fios.”
Daniel Mundurucu


Marilene Paré em seu texto “Auto-imagem e auto-estima na criança negra; um olhar sobre o seu desempenho escolar” nos coloca as dimensões presentes nos alunos negros, dimensões essas que a autora constatou através das entrevistas que realizou.
A autora nos afirma que as histórias dos alunos que ela própria entrevistou lhe abriram feridas não cicatrizadas de aprendizagens da sua vida, que também são da vida deles e de todo o povo africano, trazido a força para aqui povoarem o nosso país.
Eu, ao contrário da autora, também me emocionei ao realizar a tarefa das entrevistas, mas pelo outro lado: branca, trago em minhas origens ancestrais um resquício indígena, pelo lado materno, povo que também traz uma história de perdas físicas e materiais: tratados como selvagens, domesticados feito bicho, trocaram nosso território por batons, enfeites, perfumes. Parece-me que pouco lutaram, nada fazendo para manterem, segurarem o que era seu de direito, sua terra, sua casa, seu sustento! Totalmente o inverso do povo africano, que pelo menos lutou pela sua liberdade, perdendo o jugo dos algozes na busca por uma vida digna. Ganhando com isso o direito de ser recompensado pela abolição, embora contestada ainda hoje pela afro descendência brasileira, mas que legalmente lhes deu liberdade de viverem sem dono, com seus esforços.
Nós, descendentes dos índios não tivemos a mesma sorte. Por quantos anos fomos marginalizados, sem terra, sem reconhecimento da cultura, sem nem ao menos expandir nossa raça, nossas crenças e cultos? Poucos sabem e fazem uso de costumes, tradições e ritos indígenas, senão as tribos que ainda vivem na mata, afastados dos centros urbanos, relegados a uma vida pedinte e mendigante: pedindo terras que eram suas ao Governo (que ainda se encontram nas mãos dos grandes fazendeiros!) ou nas ruas, vendendo seus artesanatos por míseros trocados. Sem nenhum tino comercial, sentam-se nas beiras das calçadas e nem levantam a cabeça para fazerem propaganda dos seus produtos. Numa apatia total. Num silêncio mudo.
E ouso dizer que fiquei muito feliz pelas respostas dos alunos que entrevistei. M desafia aos colegas e a escola dizendo que não quer ser negra. Nega sua cor, sua identidade afro, sua história ancestral e a oportunidade de ser mais feliz na sua infância, sem tanto sofrimento de vidas passadas (dos seus antepassados). Mas sua negação tem “atitude”: não me deixo vencer. Mesmo que talvez sua luta seja consigo mesma em não admitir que sua cor não tenha nenhuma vinculação com não ser menos que o outro, embora a história que o povo afro-brasileiro carrega seja de muita tristeza e degradação. Penso que M sentiu-se abalada quando eu mesma - a professora, o adulto, e não uma criança da sua estatura - lhe confirma que é preta. Pois essa afirmação fez com que voltasse para mim seus olhos, até então os tinha desviado, e pudesse, quem sabe, pôr essa sua certeza em dúvida: talvez eu não seja tão ruim sendo preta. Pois acredita na professora e nos adultos e alguma coisa dita por uma criança pode ser que não seja tão verdade assim!
Enfim, espero que após nossa conversa, M possa pensar um pouco mais sobre sua descendência, suas origens e confrontar com a minha. Tomara M tenha acreditado quando lhe falei que seu povo ancestral foi mais corajoso que o meu: fugindo da dor e da degradação imposta por um tempo em que isso era absolutamente normal (o povo era bárbaro e roubava tudo o que pudesse, com sua força, seu exército, vencia o mais forte e ficava com todo o prêmio que pudesse amealhar: terras, fortuna, mulheres, sonhos, esperanças...).
O aluno E, na nossa conversa, assumiu uma postura bem diferente de M: não negando sua cor, mas esperando que a professora diga claramente o que quer saber! E isso foi um ponto muito relevante, pois aqui pude ver que eu (a professora) também fui cheia de rodeios, e isso poderia ser dito assim: “talvez eu não quisesse me comprometer com a luta dos alunos diferentes em sua cor”. Com isso E me obrigou a encarar o assunto de frente, exigindo (através de seus devaneios, da sua atitude “não sei do que estás falando”) que eu verbalizasse a pergunta.
Com E também percebi o quanto pode ser ferido um menino, que não sabe ainda porque é diferente dos irmãos e da mãe e não tem o referencial negro do pai junto de si. Penso que se o pai de E fosse presente em sua vida ele (E) poderia mostrar aos amigos, colegas e vizinhos que sua cor tem uma origem: é igual ao pai. Assim E sente-se diminuído por essas circunstâncias que ele próprio ainda não entende como adversas: não tem origem familiar presente da sua cor, portanto não tem identidade afro palpável, perceptível. Portanto, assim como essa origem está só no plano imaginário, então pode permitir-se esses devaneios, passando a ideia de que não sei o que eu sou. Mas E sabe muito bem da sua origem: seu pai não lhe reconheceu, então não reconhece sua cor.
Espero que E possa ir aos poucos identificando e internalizando essas questões referentes ao seu nascimento, a sua história pessoal, e que possa identificar sua descendência afro-brasileira, aumentando sua auto-estima e melhorando sua auto-imagem. Que nossa conversa-entrevista possa produzir alguns questionamentos ao longo da vida de E, e ele possa recontar sua história aos seus descendentes com muito mais felicidade.
Já com K eu posso ter certeza de que continuará muito feliz, na sua cor, na sua descendência. E que construirá sua história nesses termos: sou feliz com a tonalidade da minha pele, que me identifica frente ao mundo e que me difere dos outros tons de pele.
Que eu possa melhorar minha prática em sala de aula com essas lições que M, E e K me proporcionaram nesse trabalho, relativas à condução de atividades que possibilitem aos alunos encontrarem em suas origens a sua história, e que possam contá-las sem medo de ser discriminados, na escola ou fora dela, permitindo assim que os alunos possam modificar sua própria história com atitudes de luta. Garantindo assim que sejam os próprios donos da sua vida e da sua história. Que possam escrever uma nova história da sua descendência, onde não apareçam os horrores do passado, mas sim suas lutas, sua identidade, sua imagem e auto-estima recuperadas. Revividas, reconstruídas pelo tempo e pela história da humanidade, da civilidade e da justiça.
Conforme as dimensões encontradas Por Marilene Paré, E e K são vítimas de preconceito racial. E nas piadas que ouve dos amigos, e K pela repetência. M sofre preconceito social, pois reflete em si o “status inferior”.
Quanto aos sentimentos originários da discriminação, E sofre pelo desgosto das piadas, M na vergonha de ser negra e na conformação de K, traduzida numa única fala.
Na proteção materna frente às situações de discriminação E diz que a mãe fica brava com as piadas e a mãe de M vai até a escola exigir da professora que não chamem a filha de preta. K demonstra essa dimensão no incentivo ao trabalho e os aconselhamentos da mãe.
Nas relações interpessoais libertadoras ou inibidoras do processo de aprender, os alunos E e M são muito bem sucedidos, seu desempenho escolar é relevante, chamando atenção pela inteligência e facilidade de aprendizagem. São os alunos mais ágeis na realização das tarefas, desenvolvem as atividades com rapidez e acerto. K apresenta dificuldade de aprendizagem, mas conta com muito ajuda da professora, que lhe dá uma maior atenção nas aulas.
Na percepção de si e a consciência de suas potencialidades os alunos entrevistados demonstram entendimento de que são inteligentes e esforçados nos estudos.
Ao término da primeira parte do trabalho posso dizer como Marilene Paré que: “cada entrevista era única”, pois cada um dos alunos mostrou, falou da sua origem familiar, racial, contando suas lembranças, revivendo fatos passados, que os tornaram o que são agora, nesse tempo presente.
Depois das entrevistas é que fui ler os textos sugeridos, por absoluta falta de tempo de fazê-las antes, e registro aqui a fala de Marilene Paré: “A educação de final de milênio, nas Américas, parece necessitar de maior qualificação no que diz respeito à abordagem afro-cultural.”
Não usando de desculpas, posso dizer o seguinte referente à colocação a cima: vindos da escola que viemos, não tivemos uma formação diferente de algumas posturas que adotamos relativas aos assuntos da formação racial, étnica e identitária do nosso país. Mas temos algumas oportunidades de estudo e de aprendizagem que nos permitem uma releitura da nossa prática, que pode permitir a alguns professores ousarem nesse sentido: promover um novo fazer em sala de aula, admitindo as diferenças étnicas e fazendo nova história desse tema.
Para finalizar, gostaria de concluir que essa entrevista individual seria um bom exercício a ser desenvolvido com todos os alunos, independente de sua cor, da sua diferença, pois nos mostraria na medida exata como estão todos os nossos alunos na sua auto-imagem, no grau da sua auto-estima e a sua identidade étnica. Poderíamos assim, auxiliar em casos específicos, para, como nos diz Marilene Paré “fazer brilhar o diamante interno da própria auto-imagem e auto-estima do aluno que por mim passar”e também a minha própria como professor.

Bibliografia
PARÉ, Marilene. Auto-imagem e auto-estima da criança negra: um olhar sobre o seu desempenho escolar. E Dimensões da expressão afro-cultural.

Questões Étnico-Raciais

Entrevista com os Alunos Negros na Escola
Auto-Imagem, auto-estima e identidade dos Alunos Negros na Escola Diestchi

Comecei minhas entrevistas com uma introdução sobre o trabalho. Contei aos alunos que eu estava fazendo um trabalho da escola onde estudo, e que para isso era necessária a ajuda deles. Disse-lhes que era um trabalho sobre a História do Brasil.
Para dar início a entrevista propriamente dita, fiz essas cinco perguntas, na ordem:
1. De onde você veio?
2. Estudou em outra escola antes de vir morar aqui na Rondinha?
3. Como era lá nessa outra escola?
4. E aqui na escola Dietschi, como você se sente?
5. Como você se sente sendo aluno (a) negro (a) nessa escola?

Passo a registrar aqui as respostas dos três alunos a quem entrevistei:
A aluna K tem dez anos, é aluna do terceiro ano do ensino fundamental de nove anos, sua família aqui em Rondinha resume-se a mãe e uma irmã de dezessete anos que tem um filho de dois anos.
Respondeu a pergunta um me dizendo que veio de Caxias do Sul, nascida lá mesmo. Agora está morando aqui na Praia Azul (balneário próximo da Rondinha, onde se localiza a escola), e veio com 9 anos.
K contou que a mãe trabalhava cuidando de uma senhora idosa, e que essa havia falecido. Solidarizei-me com o fato e perguntei como ficaria o financeiro da família agora. K me diz que só a mãe trabalha, mas que ela e a irmã ajudam no serviço em casa, para que a mãe não trabalhe sozinha.

Passamos a pergunta 2 e K responde sim. Deu o nome da escola e sua localização. Conta que gostava de estudar na outra escola, que era muito legal, bem divertido. Tinha muitos colegas e brincavam de pega-pega, esconde-esconde. Mas lá não tinha parquinho (pracinha), como tem aqui, nem sala de computadores.
Perguntei sobre o lugar que morava, e também se brincava com as crianças da sua rua. Aqui disse que quase não tinha criança na sua rua, por isso se juntava com outras crianças em outras ruas do bairro para brincar.

Na pergunta 3, responde que a professora era braba! E que gostava de fazer contas de divisão e multiplicação, gostava mais de matemática. Também lia muitas histórias, porque gosto de ler, disse.

Então, chegamos à pergunta 4:
K diz que adora a escola Dietschi. Os colegas são legais, a professora é legal e muito querida, pois explica as tarefas, conversa bastante. Acrescenta que gosta das professoras e adora a aula de dança, me conta aqui que estão ensaiando uma apresentação. Diz que não gosta do momento da saída, porque os colegas vão embora e fica triste, mas gosta quando chega à aula, no início é muito bom, estão todos bem alegres.

Então para passar a pergunta 5, especificamente sobre sua cor, fiz um questionamento anterior. Pedi que me contasse o que sabia, o que já tinha ouvido falar sobre os primeiros moradores do Brasil. K me diz que começou o Brasil com os índios, e depois eles foram mortos.
Aqui lhe contei que sempre ouvia minha mãe dizer que a bisavó dela era índia, e que seu bisavô a tinha trazido da mata para morar com ele.
Então perguntei o que sabia sobre a história dos negros no Brasil. K me diz que os brancos pegaram os negros feitos escravos, e eles faziam todo o serviço dos brancos. Então conversamos sobre as novelas, disse que conhecia a escrava Isaura e achou a história horrorosa dos negros ali retratada.
Perguntei o que sua mãe lhe contava quando era pequena, diz que ouvia a mãe contar que quando era pequena pegou piolho, e a mãe disse que tinha que limpar sua cabeça, pois senão os colegas não iam querer brincar com ela. E também contava histórias dos negros escravos e dos bichinhos. E que os escravos tinham que trabalhar e os brancos só batiam, e até morreram de tanto apanhar!

Então, no meio dessa história toda, fiz uma colocação que vem me incomodando a tempos: disse para K que os negros foram muito corajosos, pois com toda sua história de escravidão, de ser arrancado da sua terra, de sofrer horrores ainda tiveram muita coragem. K completa: eles fugiram! Isso mesmo, fugiram, lutaram contra essa situação tão adversa. E se multiplicaram aqui no território brasileiro. Olha só o quanto se vê de população afro-brasileira: muitos negros, muita gente, espalhada pelo Brasil inteiro. E completei: E os índios, K quantos a gente vê por aí? Muito poucos me respondeu! Isso mesmo. O povo indígena foi dizimado, e não lutou tanto quanto os negros pela sua vida, pela continuidade da sua gente. Isso é perceptível pela população que vemos hoje, enquanto que os afro-descendentes estão em toda parte!

Aqui perguntei qual era a sua cor. K me responde enfaticamente: eu sou preta! Como minha mãe, meu pai e meus avós.

Então procedi a pergunta 5: Como você se sente sendo negra aqui na escola?
K me responde: __ Me sinto muito bem. Sou preta e vou morrer preta.
Como estávamos bem à vontade, perguntei se tivesse a oportunidade de trocar da cor preta para a branca, faria essa troca? K me respondeu com ênfase: __Não ia querer ser branca. É melhor na minha cor.

Ainda lhe questionei se já sofreu alguma discriminação, ou preconceito com relação a sua cor na escola, diz que não, nenhuma vez.

K apresentou-se bem à vontade com sua cor em toda a nossa entrevista. Somente ao final senti certo conformismo em sua colocação “__sou preta e vou morrer preta!”. Em nenhum outro momento mostrou preocupação maior, discriminatória, com relação as suas origens afro-descendentes.

Depois chamei a aluna M de oito anos, aluna do terceiro ano do ensino fundamental de nove anos.
Procedi ao mesmo questionamento, com a mesma introdução. Senti certo retraimento da sua parte logo de início, quando falei que o assunto era a história do Brasil e suas origens raciais.

Na primeira pergunta me respondeu que sempre morou aqui na Rondinha.
Respondendo a pergunta dois, me conta que estudou na escola vizinha, bem próxima da Rondinha, em Balneário Atlântico, na pré-escola.

No questionamento da pergunta três sua resposta se resume a estética, o físico: “a escola era amarela, tinha cerca ao redor, tinha um monte de rodas (pneus) que a gente brincava em cima e pulava dentro e escorregador. Lembra que “tinha que escalar a escada para escorregar e as classes (mesas) eram de madeira, baixinhas. Fala que tinha três professoras e que gostava de brincar de telefone sem fio, de esconder a boneca na caixa, dentro da casinha e os colegas procuravam.

Para a pergunta quatro suas respostas foram dirigidas aos momentos do recreio: gosto de brincar de perna-de-pau, de pular corda e pula-pula com os colegas. E também brincar de piquenique. Perguntei então, do que não gostava na escola? Ao que me respondeu:__não gosto de brigar com os colegas. Aqui tentei entrar numa conversa sobre porque brigaria com os colegas, me respondeu que não brigava.

Então, sentindo toda a sua tensão desde o começo da entrevista, fiz-lhe a pergunta:__Conheces alguma coisa da história do Brasil? Respondeu enfaticamente:__não! Perguntei-lhe se não lembrava o que conversávamos no ano passado, quando falamos muito dos moradores antigos do Brasil. Lembrou então que os índios foram os primeiros moradores, mas eles tiveram que ir embora porque os portugueses queriam mandar em tudo.

Nesse momento, adotou uma postura mais dispersa ainda que no início da nossa conversa: começou a me contar que conhecia uma escola só de índios em Porto Alegre, que essa escola era lá na rua da Brenda, do outro lado. Esses alunos índios, dizia M. usavam uma pena na cabeça e roupas vermelhas e marrons.

Como percebi desde o início da nossa conversa o quanto estava arredia, pois demonstrou o tempo todo que estava impaciente, fui diretamente à pergunta: __O que sabes dos negros, trazidos da África para o Brasil? Nesse momento enrijeceu na cadeira e virou o rosto para o lado oposto ao meu, postura essa que permaneceu até o final da entrevista. Dizendo que não sabia nada. Perguntei o que sua mãe lhe contava. M. respondeu que a mãe só lhe disse que os negros da África ficavam amarrados porque os brancos queriam que eles virassem escravos. Emenda que os negros fugiram porque apanhavam.

Aproveitei esse momento e perguntei sua cor. Não me respondeu. Então, como eu conheço toda sua família lhe disse: __Toda a sua família do lado da sua mãe é negra, do lado do seu pai são brancos, e tu qual é a tua cor?
__Eu sou preta. Essa resposta saiu muito ríspida, áspera.

E aqui na escola, como se sente sendo aluna preta? Perguntei. M não me responde diretamente a essa pergunta, mas diz que é bom vir nessa escola, pois tem os amigos para brincar.
Novamente lhe pergunto se tem algo de ruim aqui na escola.
M responde enfática, dizendo: __ O que é ruim é que às vezes a gente é chamada de preta! Novamente lhe perguntei que cor tinha sua pele. Aqui nesse momento dá uma risada e me olha meio desconfiada e diz: __Preta.
Fiz essa colocação: __Bom, se tua cor é preta e teus colegas te chamam de preta, porque é ruim? Ai então me conta uma história da outra escola, do tempo do prezinho (Pré-escola) em que a chamaram de preta e não gostava. Chegava em casa e contava para a mãe. Sua mãe pegou a bicicleta, ela própria foi pedalando a sua e rumaram para a escola. A mãe foi falar com a professora e M não participou da conversa. Não sabe o que conversaram, mas a mãe lhe disse que se a chamassem novamente de preta, contasse a ela. M diz que não aconteceu mais.

Como fiz com a K, comentei também com M sobre a coragem dos negros em lutarem por sua liberdade, fugindo para os Quilombos, procurando um lugar para viverem livres junto com suas famílias. Conquistando assim, com o passar do tempo e da história, sua liberdade. Novamente fiz um comparativo com os índios, relatando que aparenta não terem sido tão corajosos assim, pois não perpetuaram muitos da sua raça ao longo dos anos. Tanto que não conhecemos muitos índios por aqui, mas dos negros vemos muitos, em toda parte!

Levei M para sua sala e fui buscar E, que tem sete anos e estuda no segundo ano do ensino fundamental.
E é um menino muito difícil de conversar, dá muitas voltas em todas as respostas e fantasia muito. Não sei se me falou a verdade em seu relato inicial, pois contou muitas estórias que penso serem inverdades. Mas como não o conheço muito bem ainda, não posso afirmar se é real ou não o que me contou. Igualmente como os colegas anteriores, vou registrar nossa conversa.

Muito risonho e falante, iniciamos nossa conversa já no corredor, pois E é um aluno muito rápido nas conversas e na perspicácia. Logo na saída da sala queria saber o que conversaríamos, então fiz minhas considerações iniciais ali no corredor, enquanto nos dirigíamos para a sala no outro pavilhão.

Na pergunta um onde morava antes de vir para Rondinha, E responde que morava em Rio Grande, que nasceu lá. Mas que as coisas por lá eram muitos ruins. Então veio morar aqui.

E me conta que estudou em três escolas antes de vir para a Dietschi. Primeiro foi para a Santos Salvador, no balneário próximo daqui; depois foi para a escola Bem-Me-Quer, na sede do município e de lá foi para a Raimundo. Termina dizendo que agora está aqui.

Perguntei-lhe porque mudou tanto de escola, se morava bem pertinho da Dietschi. E me conta que aconteciam muitos acidentes e por isso tinha que ficar pouco tempo nas escolas. Perguntei que acidentes, E me responde: brigas. Eu era pequeno e brigava, depois fui crescendo e continuava brigando. E contou que brigava também com seus amigos.

Falando muito rapidamente foi me contando muitas dessas brigas, então tive que ir direcionado para os meus questionamentos. Perguntei o que gostava, o que tinha de bom nas escolas que passou. E responde que gostava de brincar com os brinquedos e cuidava para os colegas não os destruírem. Rapidamente passa a contar que tinha amigas e mais colegas. Continuando suas lembranças, fala da professora Paula que era muito boa, pois não gritava com ele quando incomodava. E que por isso ficava na hora do recreio fazendo as tarefas. A conversa foi longe, novamente cortei o assunto e direcionei a nova pergunta.

Questionado sobre o que conhecia da história do Brasil e seus moradores, E respondeu que não sabe direito. Perguntei se lembrava quando fomos fazer o painel dos recortes na biblioteca. E me diz então que lembra que fomos conversar e recortar sobre os africanos, os índios e não se lembra de recortes sobre os portugueses. Perguntei o que lembrava mais. Disse que não lembrava muito, mas numa atitude de negação, pois demonstrava certo ar matreiro enquanto dizia, querendo esconder o que já sabia ao não verbalizar esse conhecimento.

Nosso clima estava bem amistoso, pois já nos conhecíamos bem, então fui diretamente à pergunta: __E qual a cor da tua pele? Ao que me respondeu prontamente, num largo sorriso: __Moreno. Perguntei de novo: o que é moreno? __A minha cor. Encostei minha mão na dele, arregacei minha manga e perguntei: __ E qual a minha cor? __Professora tu é chocolate branco! E eu sou chocolate preto! Concluiu E.

Depois dessa resposta caímos na gargalhada. Então E começou a me contar que uma amiga da sua mãe havia dito que o E era afro-brasileiro e a mãe respondeu que não. Teci alguns comentários sobre sua cor mostrar essa afro-descendência, e a amiga da sua mãe estava certa ao dizer isso.

E passa a relatar que todo mundo dizia que ele havia “nascido no forno”, mas E não ligava, porque sabia ser brincadeira pela sua cor. Mas que sua mãe ficava brava com isso. Perguntei quem era todo mundo, E me diz que são os amigos da mãe, os vizinhos próximos de sua casa, os seus amigos.

Aproveitei e lhe perguntei como se sentia sendo aluno negro aqui na escola Dietschi. E me diz que se sente bem, mas às vezes não. Pergunto por que não, E responde que do lado da sua casa o chamam de “neguinho”. Insisto com ele na pergunta: e aqui na escola E, como se sente? E fala que se sente bem e alegre e que fica chateado quando um único colega (D) o chama de “neguinho” (pelo jeito que o faz), outros colegas podem até chamá-lo assim, mas ele não liga, pois chamam diferente do jeito que D o chama!

Como nas entrevistas anteriores contei a E minha descendência indígena, com a história da bisava índia, comentei também sobre a luta dos negros em serem livres, batalhando por igualdade junto aos brancos. Juntos concluímos que os negros são tão importantes quanto os brancos, o que é necessário é que cada um respeite o outro, do jeito que o outro é.

Depois das entrevistas com os alunos, me senti mais aliviada com o tema etnia. Estive um tanto apreensiva antes da atividade, mas durante o tempo em que fomos conversando, pude perceber o tanto que K é feliz em ser negra, concordando plenamente que tem suas origens étnicas e raciais negras e que não se sente discriminada em sua cor, nem percebe essa discriminação na sua vida.

K demonstrou ao longo da nossa entrevista que tem boa auto-estima e reconhece sua identidade afro-brasileira com muita tranqüilidade, entendendo que somos parte de uma família, que temos as características físicas herdadas de nossos parentes. E que isso faz diferença na sua vida, pois é feliz com a diferença que percebe entre ser de cor preta e outras pessoas serem brancas, índias, européias, enfim, de outra etnia, mas que isso não lhe diminui em nada, pois todos somos diferentes.

M rejeita sua identidade e possui baixa auto-estima, pois sua postura durante toda a nossa conversa foi de negação da sua cor. Inclusive negou que conhecia uma pequena parte, um pedaço da história da vinda do povo africano ao Brasil, pois foi minha aluna no ano passado e esse é um tema que procuro trabalhar durante todo o ano, em muitas oportunidades.

Já a postura de E foi de total descontração frente ao assunto da nossa entrevista. Embora tenha reclamado de ser chamado de “neguinho” de um jeito diferente pelo colega D, não mostra nenhuma restrição ao termo ser proferido pelos outros colegas, incomodando-o especificamente com esse colega. Percebo aqui certa animosidade entre os dois alunos. E demonstrou ao longo da nossa conversa que a mãe é quem tem mais rejeição a sua cor, visto ser ela branca, seus dois filhos anteriores também brancos, de um casamento com um homem branco. E nasceu de um novo relacionamento, então com um pai afro e que não vive com sua mãe. Sofre mais discriminações dentro de casa, pela sua cor, sendo e sentindo-se comparado com os irmãos brancos diariamente!

Penso que E tem baixa auto-estima que ainda pode ser melhor trabalhada com relação a sua descendência afro, mas que com muito jeito, reconheço, a escola pode vir a desenvolver uma melhora sensível nesse sentido, tratando a E, K, M e todos os outros diferentes (afinal, não somos iguais em nossas características físicas, na nossa aparência, nas posses financeiras, nas preferências, afros, índios, deficientes, especiais, ) de um jeito que possamos levar a todos os alunos a sentirem-se bem na escola, na cidade, na sua vida pessoal, familiar e social. Tendo as mesmas oportunidades e possibilidades de garantia de educação democrática.

Ao finalizar essa primeira parte do trabalho posso dizer como Marilene Paré que: “cada entrevista era única”, pois cada um dos alunos mostrou, falou da sua origem familiar, racial, contando suas lembranças, revivendo fatos passados, que os tornaram o que são agora, nesse tempo presente.

Essa entrevista individual seria um bom exercício a ser desenvolvido com todos os alunos, independente de sua cor, da sua diferença, pois nos mostraria na medida exata como estão todos os nossos alunos na sua auto-imagem, o grau da sua auto-estima e a sua identidade étnica. Poderíamos assim, auxiliar em casos específicos, para, como nos diz Marilene Paré “fazer brilhar o diamante interno da própria auto-imagem e auto-estima do aluno que por mim passar”e também a minha própria como professor.



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quarta-feira, 10 de junho de 2009

Perdas

Por vezes nos deparamos com situações que nos exigem um pouco mais de atenção.
Lidarmos com as perdas em nossas vidas requer muita sabedoria.
Pois minha amiga Mara Braum teve duas vezes seguidas essas perdas: faleceu seu pai e logo em seguida seu marido.
Estou aqui, com muito carinho oferecendo meu ombro, meu abraço, meu colo!
Minha querida amiga, achegue-se a mim, estou aqui a sua espera.
Pense com carinho na minha proposta.
Bjus querida e conte comigo sempre.

domingo, 7 de junho de 2009

FRUTOS PEADIANOS

No ano de 2007 tivemos a oportunidade de apadrinhar os alunos novos do Pead.

Essa proposta para nós, acadêmicas do Pead TC desencadeou na escola Dietschi um

Projeto semelhante:
Mara Braum, então professora da 4ª série, promoveu o apadrinhamento dos seus alunos com os meus, do 1º ano.

Foi um trabalho bem bacana de parceria, onde os alunos da 4ª ajudavam seus afilhados em todas as necessidades, inclusive um sala de aula, se houvesse um aperto dos alunos do 1º ano lá vinham os dindos auxiliarem, até cópia do quadro!

Tal minha alegria quando a professora do 3º ano nesse ano de 2009 veio até minha porta oferecer apadrinhamento dos seus alunos (que foram do 1º ano em 2007) para os meus alunos do 1º e 2º anos (classe multisseriada)!

Prova de que integração, cooperação e solidariedade ainda rendem bons frutos na sala de aulas...
Fiquei emocionada com a proposta!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Educação civilização e barbárie

Atividade de Filosofia.

Essa interdisciplina está me exigindo muita busca.
Não consigo dar conta das propostas sem ter que procurar outos materiais e fazer novas leituras, além daquelas solicitadas!

Educação, civilização e barbárie.


Brandão, 1985, p.7 nos diz:
“Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com educação”.

Entendemos então que a educação ultrapassa e vai além do ambiente escolar. E como tal se faz processo: há caminhada, envolve busca, acomodação, possibilidades permissão, tempo. Constrói-se fazeres, aprende-se saberes. Procuramos novos rumos, desenvolvemos capacidades, desafiamos possibilidades. Agimos e interagimos com outro, conosco, com novos e velhos conhecimentos. Buscamos agregar, juntar, abstrair, formalizar. Pensamos e repensamos. Refletimos.

Civilização é o estágio de desenvolvimento cultural em que se encontra um determinado povo. Este desenvolvimento cultural é representando pelas técnicas dominadas, relações sociais, crenças, fatores econômicos e criação artística.

O desenvolvimento de uma civilização ocorre lentamente, pois é um processo e vários fatores influenciam no seu desenvolvimento, podendo ser movida pela vontade do seu povo ou de lideranças.

O termo barbárie tem dois significados distintos, segundo o dicionário, mas ligados: “falta de civilização” e “crueldade de bárbaro”.

A palavra bárbaro é de origem grega. E designava, na Antigüidade, as nações não-gregas, consideradas primitivas, incultas, atrasadas e brutais.

Conclusões:
1. Ao longo da história da humanidade, aprendemos que o “o homem venceu a solidão e a obscuridade das cavernas” e com isso conquistou o direito à formação de grupos, à confecção de seus próprios instrumentos, inventando suas necessidades e suprimindo-as pelo consumismo. Reinventando suas modernidades o homem conquistou espaços, destruiu a natureza, ganhou adeptos á sua causa, perdeu chão, destruiu a terra, mas continuou a querer mais. Virou sedentário e ganancioso. Quis mais poder do que já teve e tem. Para alcançar isso, não importa o preço. Galgou caminhos a qualquer custo!

2. Pensar a barbárie como coisa que ficou para traz é um pensamento um tanto equivocado, errôneo. A barbárie ainda hoje persiste, basta que liguemos a televisão, em qualquer canal. Todas as emissoras, sem nenhuma dúvida, retratam a barbárie que habita ao nosso redor: uma regressão ao homem primitivo. Noticias diárias: delinqüência, crimes, assassinatos, seqüestros, atrocidades, roubos e roubalheiras públicas, desvios de conduta, quebra das regras, matança indiscriminada. Morre-se por quase nada: um par de tênis, uma mochila, um óculos de sol, um jogo de futebol. Um professor apanha na escola de um aluno e o traficante é aplaudido por garantir sustento na comunidade!

3. Um professor hoje não pode ficar parado diante da tamanha violência que atinge nossas salas de aulas. Não é possível ficarmos anestesiados diante de tamanha crueldade que encontramos em alguns grupos, em determinados alunos, em vários locais. Necessário se faz que passemos a nos indignar com tantas coisas fora de ordem conforme Antonio Ozai da Silva fala: A partir do momento que não nos indignamos diante da realidade social, que aceitamos como naturais determinados fenômenos sociais, acabamos por admitir que parcelas de seres humanos são descartáveis. Ao perdermos a noção do humano, o que Adorno denomina de consciência coisificada, nos tornamos coisa e tratamos os outros como coisas.

4. Diante da nossa responsabilidade de profissionais da educação, cabe a nós então, elevarmos nossa profissão ao poder que ela detém, de fazermos com que nossos alunos percebam a importância de entenderem o porquê de as barbáries acontecerem e o que se pode fazer para evitá-las. Precisamos ensinar aos nossos alunos a refletirem criticamente, levando-os a pensarem com consciência intelectual, cultural e social. Todos nós temos o dever de promover essa reflexão primeiramente em nós mesmos e depois levar essa discussão às nossas escolas.

Bibliografia:
CARNEIRO. Néri P. Educação e educação escolar. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/8120/1/educacao-e-educacao-escolar/pagina1.html

CIVILIZAÇÃO. Disponível em:
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/civilizacao.htm

LOWI, Michael. Barbárie e modernidade no século XX. Disponível em:
http://www.sociologos.org.br/textos/forumsocial/Artigo%20de%20Michel%20Lowy%20sobre%20Modernidade.htm
SILVA, Antonio Ozai da. Educar contra a barbárie. Revista Espaço Acadêmico, nº 39, agosto de 2004. Disponível em:
http://www.espacoacademico.com.br/039/39pol.htm