domingo, 1 de novembro de 2009

LIBRAS - FILMES

A interdisciplina de Libras nos ofereceu como atividade assistir a dois filmes: Meu nome é Jonas e O Menino selvagem. Ambos os filmes antigos que nos mostram a história de dois meninos surdos em favorecimento da sua permanência na sociedade que os rejeita.

Desde o início da história dos surdos, assim como várias deficiências aparentes, esses indivíduos foram excluídos, proibidos e marginalizados pela sociedade, tanto na atualidade quanto na antiga sociedade.

E durante todo esse tempo sempre houve pessoas interessadas, batalhadoras e imbuídas de muita coragem, que calgaram importantes caminhos empunhando várias lutas em favor dessa parcela de indivíduos excluídos da escola, da vida social e marginalizados em sua aparência, sem serem levadas em conta suas possibilidades, sua inteligência e suas necessidades de apoio especializado, moral e afetivo.

O primeiro filme, Meu nome é Jonas, mostrou a fragilidade da estrutura familiar, o despreparo e o desrespeito escolar, hospitalar e da sociedade em geral quando se vêem diante de uma criança diferente. A mãe adotou uma atitude cega frente a inseri-lo imediatamente aos costumes, hábitos e comemorações familiares, no bairro e na escola, logo após sair do hospital onde permaneceu por três longos anos, por causa de um diagnóstico errado que o deu como deficiente mental, enquanto ele era simplesmente surdo. O pai demonstrou o filme inteiro o quanto os homens são pragmáticos e racionais. Verbalizando suas frustrações durante todo o tempo, partindo sempre pra agressão antes de conversar. Jonas assistia e “sentia” as cenas exaltadas, as brigas constantes e os desequilíbrios das emoções em ambos.

A escola era um local somente para treiná-lo ao mundo da palavra, tentando moldá-lo a uma sociedade discriminadora e castradora, que não permitia o uso da comunicação através dos sinais.

A sociedade à qual sua família fazia parte não o recebeu, nem o acolheu no seu retorno ao convívio familiar.

Enfim, situações que pensamos serem normais entre a família de filho “diferente”, surdo, de alguns anos atrás. Afinal, há poucos anos é que os conceitos de “criança diferente” passaram a ser normais em sua condição, apenas vistos como tendo suas limitações e especificidades.

As reflexões que esse filme me proporcionou foram no sentido de perceber o quanto é difícil aceitarmos o filho diferente, o especial, enquanto nos preparamos para recebermos um filho normal, igual a todos os outros, e esperamos serem aceitos normalmente pela convenção social: poder inserir-se em todos os grupos que a família pertence, freqüentar a escola regular e ser visto por todos.

Como educadores também não ficamos muito longe disso: faz poucos anos que a escola abriu as portas à aceitação de alunos diferentes. Ainda temos escolas sem acesso físico e sem preparo do professor para o trabalho de alunos deficientes, qualquer que seja a sua limitação ou necessidade. E também contamos com a boa vontade de uns poucos profissionais que se permitem aceitar e abrir-se ao novo, ao diferente, procurando caminhos, métodos e meios de se instrumentalizar para essa nova realidade que vamos adentrando no mundo escolar: democracia e universalidade do ensino para todos.

Felizmente hoje temos mais consciência, enquanto educadores e mesmo pais, que somos parte de comunidades de indivíduos diferentes e podemos constituir-nos de vários grupos, conforme nossos interesses, afetos e livre arbítrio.

O filme “O menino selvagem” nos mostrou a luta de um médico em favor da possibilidade do menino Victor demonstrar sua inteligência.

Tendo sobrevivido ao abandono na selva durante vários anos, Victor foi encontrado e levado ao instituto de educação de surdos, pela evidência de não falar. Após algum tempo ali, onde não se adaptou à clausura nem ao contato humano, pelo fato de ter vivido livremente até então e somente ter convivido com os animais nesse período de sua vida, adquirindo seus hábitos alimentares e comportamentais, foi dado como idiota pelos profissionais dali.

O menino foi chacotado publicamente, exposto ao público curioso e excluído por que não se encaixavam no padrão.

O Doutor Itard fazia suas anotações diárias sobre o procedimento adotado e as reações provocadas no menino. Uma das suas falas iniciais diz que “tudo o que o menino faz desde que chegou aqui é feita pela primeira vez”.
Para mim essa fala foi de uma importância fundamental, pois nos dá um entendimento real da situação vivida pelo menino, e pelos tantos outros indivíduos excluídos da nossa sociedade vigente. Nem sempre nos comportamos da maneira que o fazemos somente pelo fato de querer chocar as pessoas a nossa volta, ou por birra, ou para chamar a atenção. O médico nos diz que o fazemos “pelo simples fato de nunca termos feito aquilo”, isso me permitiu um novo pensar sobre todos os meus alunos: não conseguem dar conta de tudo porque ainda não viveram aquelas experiências, não passaram por essas vivências, não viveram o processo de aprendizagem através da experimentação.

O ato de aprender a caminhar foi como se ensina a uma criança de um ano. O aprender a segurar o talher, o levar à boca, abrir e fechá-la, a mastigação. A necessidade de deixá-lo sentir a necessidade da roupa, para então vestir-se. Isso também confirmou meu trabalho com meus pequenos da educação infantil: a necessidade de deixarmos que se tornem autônomos em suas ações necessárias, diárias; alimentar-se corretamente, demonstrando-lhes o uso de talheres, o uso da escova de dente, o retirar e colocar roupas e calçados, organizar seus materiais na mochila, pegar suas roupas, sua toalha, identificando-as. Pequenas atividades que devemos ensinar-lhes, pois ainda não viveram essas experimentações todas em sua casa, com seus pais ou cuidadores.

Por várias vezes ainda precisamos chamar alguns pais e dizer-lhes que devem permitir a seus filhos realizarem essas mesmas ações em casa, pois essa experimentação os ajudará a adquirir as habilidades necessárias para sua autonomia enquanto ser que aprende e necessita praticar várias vezes essas vivências para internalizarem-nas.

Observei no filme que o médico trabalhou primeiramente a oralização de Victor, mas que não obtinha muitas vitórias com isso, então passou a ensiná-lo a utilizar a linguagem gestual para a comunicação. A partir daqui então introduziu a escrita na vida de Victor, tirando grande crescimento na associação da figura à palavra.

Na escola que conheço, onde fomos visitar a turma de surdos no ano passado, juntamente com a menina com deficiência auditiva que tive, percebemos esse mesmo método de trabalho junto ás duas professoras que ali estavam. Inclusive nos mostraram alguns livros, um dicionário e os cadernos de alguns alunos com a associação figuraXpalavra.

Assim outros tantos momentos do filme nos levam a outras tantas reflexões necessárias nesse momento presente, de inserção dos alunos diferentes, especiais e necessitados de novos olhares, de novas práticas em nosso trabalho, tanto em nossa sala de aula quanto inseridos em nossas comunidades.

Os surdos, tanto na escola quanto na Cidade, merecem ser vistos como pessoas iguais a todos os outros indivíduos, e com necessidades especiais de atendimento e de vontade por parte dos profissionais que os atendem, da comunidade que os cerca, das pessoas com as quais vivem e convivem.

O poder público precisa fazer sua parte, adotando políticas e ações para incluir todos os alunos democraticamente nas escolas, mas os profissionais também têm que estar abertos e prontos a novas aprendizagens, principalmente no sentido de buscar aperfeiçoamento, formação e motivação para esse trabalho.

Enfim, todos nós precisamos dar conta de buscar um método, através de instrumentalização e meios que possibilitem agregar aprendizagem á inteligência possível que todos os indivíduos possuem, cada uma na sua especificidade.

Um comentário:

Roberta disse...

Stela!!

Continuo pensando que a falta de conhecimento das pessoas sobre os surdos e outras pessoas com necessidades especial é o maior dificuldade que eles podem enfrentar.
Julgar sem conhecer e entender é um ato de preconceito e temos que trabalhar com isso, começando pela nossa sala de aula, escola e nosso círculo de amigos, pois muitas vezes a falta de informação é que nos leva a atitudes de exclusão.

Abraços
Roberta