sábado, 19 de setembro de 2009

Didática

Atividade: O livro Didático em Comênio

Entre outras contribuições, Comênio foi um dos primeiros a desenvolver livros didáticos para o ensino. O mais famoso desses é o “Orbis Pictus” (“O mundo em imagens”). Nesta atividade faremos uma pequena análise da proposta comeniana que foi publicada em 1658, tornando-se uma novidade nas escolas da Europa.

Após visualização de uma dessas páginas e as leituras dos textos indicados “Vida e obra de Comênio” de João Luiz Gasparin (1994); “Didática Magna – Tratado da arte Universal de ensinar tudo a todos (saudação ao leitor e índice)” e “A metodologia tem história” de Joahnnes Doll e Teresinha Dutra da Rosa Russel, respondendo as duas questões, fiz a seguinte análise:



Acredito que o material devia ser apresentado à època, na frente do quadro, numa classe de alunos dispostos em fileiras, sendo que a ênfase seria dada com uma régua grande de madeira apontando para a escrita. Embora trouxesse o desenho, esse seria pouco enfatizado, a título de ilustração, em segundo plano. Penso que o professor era o detentor daquele saber e devia também enfatizar essa sabedoria frente aos alunos. Penso ainda que devia haver uma cobrança na lembrança da frase, da ação e não propriamente da figura, mas que essa seria invocada sempre que fosse exigida a grafia da frase, da ação.

Nossas salas de aula hoje são de uso coletivo. E os turnos da manhã, tarde e noite trazem alfabetos com figuras e letras em suas diversas grafias.
Geralmente nas salas de alfabetização encontramos a ordem alfabética na parede. Em alguns casos os alunos é que grafam as letras em seus variados tipos gráficos e desenham a figura representativa, do seu contexto; em tantos outros casos as figuras são recortadas e coladas pelos professores, sem uma prévia pesquisa com os alunos para que citem palavras das suas vivências, do seu cotidiano.
Como exemplo quero citar um alfabeto de uma escola de educação infantil, da turma de pré-escolar de 5/6 anos: a professora fez recortes de animais e colou em cada letra. Salvo uns dois ou três animais que encontramos aqui na nossa localidade, os outros eram todos distantes dos alunos, como elefante, urso, tamanduá, girafa. Para a letra i a figura foi um “índio”!? E para as letras k, y e w foram colocados meninos ou meninas com nomes estrangeiros tipo Yuri, Wiliam e Kétlin, (ao menos esses nomes penso que sejam dos alunos da sala, não sei...).

Não bastasse tudo isso, um tanto fora da realidade dos alunos e da identidade indígena, ainda foi colado bem próximo do teto, local onde não é possível os alunos tatearem, tocarem, contornarem as letras e animais ali constantes.

Conforme Comênio diz no Índice da Didática Magna na línea VII “a formação do homem se faz com muita facilidade na primeira idade” e a escola infantil é um momento de primeiros anos escolares, vejo que poderia ser mais “proveitoso alfabeticamente” se o contexto de vida, a realidade dos alunos fossem trazidos para a formação desse mesmo alfabeto, e que ele fosse colocado ao alcance da mão dos alunos.

Mas, voltando ao questionamento inicial, encontramos em todos os livros didáticos e até nas ações dos professores alfabetizadores o uso dessa prática da associação de figuras e letras, figuras e palavras. E também é de bastante uso a carta enigmática, onde aparece o sujeito em figura e o restante da escrita em grafemas.

Joahnnes Doll traz sua fala sobre o livro “Orbis Pictus”, “Comênio juntou gravuras, frases simples, sons e letras num único livro, onde o aluno possa aprender a ler, escrever e conhecer o mundo a partir da visualização”.
Ainda hoje fazemos isso, pois procuramos mostrar a escrita relacionada ao visual, com a intenção de informar que aquilo que está desenhado pode ser escrito, como uma forma de motivar, atrair o olhar, a atenção do nosso aluno, pensando ser uma maneira mais prazerosa de apreensão da língua escrita nos primeiros anos escolares, em especial o momento da alfabetização.

Paulo Freire traz essa fala em seu livro Pedagogia da Autonomia, 1996: “É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas cronológico, o velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo”.
Penso que essa fala encerra bem essa atividade.

Bibliografia:
DOLL, Joahannes; ROSA RUSSEL, Teresinha Dutra da. A metodologia tem história.
GASPARIN, João Luiz. Comênio ou da Arte de Ensinar Tudo a Todos. Campinas. Papirus, 1994, p. 41-42.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1996.

2 comentários:

SuzanDavidBlogs disse...

Oi querida Stella!
Sou a Suzan, do polo de Sapiranga.
Muito interessante tua reflexão sobre Comênio e sua obra.
Sua visualização da sala de aula naquele tempo é autêntica e não faz ,muito que deixou de ser assim: minha escola primária era igualzinha (vamos omitir minha idade).
Um abração!

Stela disse...

Oi Susan, obrigada pela visita.
pois as coisas se renovam e umas tantas outras permanecem, não é mesmo?
Coisas boas devemos dar continuidade, mas as não tão boas podem ser substituídas por melhores!