segunda-feira, 27 de abril de 2009

Psicologia da Educação II

ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO SEGUNDO PIAGET

“O estádio em que um indivíduo se encontra é radicalmente individual,
não pode pois, ser confundido com o de nenhum outro indivíduo”.
(Fernando Becker)

Um dos aspectos mais conhecidos da obra de Piaget é a Teoria dos períodos de desenvolvimento. No livro O Nascimento da Inteligência na Criança (1936), Piaget mostra como, “a partir dos primeiros reflexos com os quais a criança é dotada ao nascer, vão-se construindo, pouco a pouco, em interação com o meio, as condições necessárias para todas as posteriores conquistas cognitivas”.
O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget chamou de “construtivismo sequencial”. (José Luiz de Paiva Bello, 1995).
Para Piaget (1972) as idades de ocorrência dos estádios são variáveis de um sujeito a outro, porém isso não muda a ordem dos estádios pelos quais passam. O ordenamento desses estágios é que se mantém constante e a interação é única para cada indivíduo, conforme afirma Becker (2001).

ESTADIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Sensório-motor (0 a 24 meses)
Nesse primeiro período inicia-se a capacidade de representação da realidade. A inteligência sensório-motora se caracteriza por ser exclusivamente prática e perdura até o aparecimento da linguagem. Esse estádio limita-se a ações da realidade. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase ("água" para dizer que quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua conduta social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele) conforme José Luiz de Paiva Bello, em sua “Teoria Básica de Jean Piaget”, (1995).

Pré-operatório (2 a 7 anos)
Surgimento da função simbólica, desdobrando-se em período simbólico e intuitivo. Para Piaget, o que marca a passagem do período sensório-motor para o pré-operatório é o aparecimento da função simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. É a passagem da acomodação sensório-motora ao jogo simbólico. A capacidade simbólica é marcada pelo egocentrismo, em função da ausência de um equilíbrio entre os processos de assimilação e acomodação, pois há muitas assimilações deformantes da realidade, sem acomodação completa. Aqui a criança não é capaz de lidar com idéias diferentes das suas em relação a um determinado tema.

Nesse estádio o pensamento tende a centrar-se num único aspecto da realidade, liga-se mais aos sucessivos estados de um objeto do que as transformações pelas quais ele passa. O pensamento ainda é marcado pela intuição e percepção imediata da realidade, levando a soluções incorretas de problemas. O pensamento é irreversível: a criança não consegue converter relações.

Operatório-concreto (7 a 11)
Nesse estádio há reversibilidade do pensamento: a criança torna-se capaz de realizar operações, ações mentais, embora limitadas pelo mundo real. É capaz de cooperar; as discussões tornam-se possíveis porque respeitam o ponto de vista adversário, procurando justificativa ou provas para afirmação própria. Constrói operações lógicas de classificação e seriação, conservação física de substância, peso e volume, e conservações espaciais de comprimento, área e volume, e conceito do número.
As experiências mencionadas por Inhelder, Bovet e Sinclair (1977), mostram que essas estruturas operatórias não dependem da aprendizagem stricto sensu (empirismo). O real é quem define possibilidades, as possibilidades são uma categoria do real.

Operatório-formal (11 em diante)
Esse estádio é marcado pelo plano das possibilidades. Existe uma melhor compreensão do mundo no acesso ao campo das possibilidades.
Há o estabelecimento de relações, produzindo transformações e inversão nas relações entre real e possível.
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê em nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.

Piaget considera esses quatro períodos no processo evolutivo da espécie humana, como “aquilo que o indivíduo consegue fazer de melhor no decorrer das diversas faixas etárias, ao longo do seu processo de desenvolvimento (Furtado). Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental, que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia (Coll e Gillièron, 1987). De forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas quatro fases na mesma sequência, porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer variações em função das características da estrutura biológica de cada individuo e da riqueza (ou não) dos estímulos proporcionados.
A compreensão do processo como se dá o desenvolvimento da inteligência, por definição de períodos em que, cada indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de compreensão e interpretação da realidade é fundamental para que nós, professores, possamos também compreender com quem estamos trabalhando. Segundo Lima (1980, p. 131): “aceitar o ponto de vista de Piaget, provocará turbulenta revolução no processo escolar (o professor transforma-se numa espécie de ‘técnico do time de futebol’, perdendo seu ar de ator no palco). (...) Quem quiser segui-lo tem de modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados milenarmente (aliás, é assim que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se uma arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e sociológicas).
A obra de Jean Piaget não oferece aos educadores uma didática específica sobre como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança, apenas nos mostra que cada fase de desenvolvimento apresenta características e possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições. O conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam oferecer estímulos adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo, conforme nos aponta José Luiz de Paiva Bello no texto “A teoria básica de Jean Piaget (1995).
Bibliografia:
BELLO, José Luiz de Paiva. A teoria Básica de Jean Piaget. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09.htm. Acesso em: 27 abril. 2009
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm
MARQUES, Tânia Beatriz I. Epistemologia Genética e Construção do Conhecimento. Disponível em: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo6/psicologiaii/epistemologia_genetica_e_construcao_do_conhecimento.pdf. Acesso em: abril.2009

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